期刊名称:E-topia : Revista Electrónica de Estudos sobre a Utopia
电子版ISSN:1645-958X
出版年度:2005
期号:03
出版社:Universidade do Porto
摘要:Publicado pela primeira vez em França em 1995, A Ilha da Mão Esquerda inscreve-se claramente no género literário utópico, descrevendo a viagem de um herói (Lorde Jeremy Cigogne) até um arquipélago ignorado pelos geógrafos, no Pacífico Sul, e a sua inserção, juntamente com a sua família, na sociedade utópica fundada pelo Capitão Renard em 1885. Mas apesar do título, que poderá parecer apontar para uma utopia ideológica, A Ilha da Mão Esquerda tem como tema central e quase obsessivo o Amor e a necessidade de ele ser continuamente cultivado e reinventado numa relação a dois. Na verdade, a pergunta central que motivou o mentor da colónia esquerdina a abandonar o “mundo dos dextros” não foi “como conviver em sociedade?” mas “como é que fazemos para amar?”. A pergunta, note-se, não deixa de exprimir preocupações sociais; a proposta utópica (se é que de uma proposta se trata) parte da ideia de que o homem e a mulher, unidos por uma relação (e, a partir deles, a sua família próxima), se cultivarem o Amor, saberão apreciar os valores que na vida são realmente importantes. O Arquipélago Canhoto em que Jeremy Cigogne, a sua mulher, Emily, os seus filhos e o mordomo se refugiam, é formado por três ilhas peculiares: a Ilha de Helena, assim chamada em homenagem à mulher que o Capitão Renard dedicou a sua vida a amar; a Ilha do Silêncio, onde os casais aprendem a conhecer-se melhor sem o ruído das palavras; e a Ilha de Todas as Verdades, onde um gás iodado que dissolve as mentiras põe à prova a solidez das relações conjugais. Explorando as três ilhas e aderindo aos estranhos costumes helenianos do Dia Branco, da Quaresma de abstinência sexual, do Outubro libertino e do Carnaval canhoto, Cigogne e Jeremy apreendem o sentido de um amor incondicional, não sem antes conhecerem os sobressaltos do ciúme, causado pelo adultério que ambos praticam.